Laís é uma menina danada de esperta.
Ela adora fantasiar e criar estórias, que costuma contar para os amiguinhos da vizinhança.
A maioria das crianças tem no máximo cinco anos e ela, do alto dos seus oito, acha-se praticamente uma adulta.
Na última estória ela disse que estava passeando por uma pracinha, quando viu uma bexiga voando sozinha.
Era daquelas de gás que se compra na entrada do parque de diversões.
Sem perder tempo, ela correu em direção ao barbante que estava preso na bexiga e quando conseguiu segurá-lo, seus pés começaram a sair do chão.
Tudo aconteceu tão rápido, que quando ela deu por si, já estava voando alto, perto das nuvens!
Laís dá uma pausa e os pequenos não perdem tempo e começam a perguntar, todos juntos:
– Mas você não ficou com medo?
– Você não quis soltar a bexiga?
– Como é que uma bexiguinha só, conseguiu te levantar do chão?
– Você tem o braço tão fininho, como conseguiu se segurar?
– Você é muito corajosa!
Então, antes que as perguntas não parassem mais, ela os interrompe:
– Calma! Deixem-me terminar – e retoma a narrativa.
– O que vocês não sabem é que a bexiga era mágica!
As crianças se olham e passam a dar mais atenção para a menina, que continua.
O poder da bexiga era o de levar qualquer criança para o lugar que ela mais gostasse de estar.
Como eu adoro a casa da minha avó, ela rapidinho tomou rumo para a cidadezinha onde vovó mora.
– Ué, mas como você sabia que ela estava indo para lá? – questiona uma das crianças.
Balançando a cabeça e sorrindo, como se estivesse esperando a pergunta, ela explica:
– É que eu ainda não contei o outro poder da bexiga! – e faz uma pausa para dar mais suspense.
– Ela falava!
– Óóó! – exclamam as crianças.
– Pois é… Mas ela falava até demais! Quase não consigo aproveitar o passeio!
– É muito legal ver as vacas lá de cima! Parecem de brinquedo!
E quando parou por um momento para respirar, a enxurrada de perguntas recomeçou:
– E aí, como é voar?
– Como você explicou para sua vó que estava lá sozinha?
– Você demorou muito para chegar?
– A bexiga mágica não estoura?
Laís pede silêncio e volta a narrar sua aventura:
– A viagem demorou só uns minutinhos… Quando chegamos, ela me deixou na varanda da casa da minha avó e disse que quando eu quisesse ir embora, bastava chamá-la em pensamento.
– Ah, mas aí veio a parte mais difícil: como contar para minha avó que eu tinha chegado lá, voando numa bexiga mágica? Pensei, pensei e achei melhor falar a verdade mesmo! Contei tudo, detalhe por detalhe e como era de se esperar, ela não acreditou em uma só palavra.
– Sei, sei. Seus pais te deixaram aqui e foram fazer alguma compra na cidade e voltam mais tarde para lhe buscar, não é isso danadinha?
– Naquele momento eu não tinha como provar minha estória, então acenei com a cabeça. Então vovó me convidou para um lanchinho.
– Bom, não importa! Sente-se que eu vou preparar aquele mingau bem morninho e cremoso que você adora!
– Huummm, delícia vovó!
Olhando para cima e passando as mãos na barriga, Laís completa:
– Só de lembrar agora, já fico com água na boca! Mas voltando à estória, passei a tarde inteira na casa da vovó e quando já era quase noitinha, achei melhor voltar. Me despedi dela e falei em pensamento:
– Bexiga mágica, estou pronta! Pode vir me buscar!
A avó da menina quase cai da cadeira quando vê a bexiga chegando e o que é pior: falando com ela!
– Vamos Laís, está na hora!
– Vovó ficou sem ação, pois não acreditava no que seu olhos estavam vendo! Então me despedi dela, agarrei no barbante e lá fui eu de volta para casa.
E como Laís parou a narrativa, as crianças reclamaram:
– Continua! O que mais aconteceu?
Fazendo careta, a menina responde:
– Ué, fim da estória! Eu cheguei em casa e pronto! Agora todo mundo para casa, que eu tenho que tomar banho. Amanhã tem mais…
E a criançada sai em fila indiana, reclamando que queriam mais estória.
Nota: essa estorinha foi escrita por Katia Marques
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