Por onde ela passa sua aparência causa repulsa.
O odor também não é lá dos melhores.
– Já dei a volta ao mundo! – vangloria-se.
Na verdade ela não andou o mundo todo e sim, pelo mundo todo. Mas isso foi antes de ser descartada por não ter mais utilidade.
Foi um momento difícil que ela teve que superar, por isso não gosta de tocar no assunto.
Sua parceira sumiu, talvez levada pelo caminhão do lixo.
Agora ela vive perambulando pela cidade, sem destino e propósito.
As lembranças de uma vida boa, cheia de cuidados, sempre lhe vem à mente quando está sozinha à noite, no frio ou na chuva.
– Eu vivia engraxada e limpa! – lembra.
A chuva é sua maior inimiga.
– Eu demoro dias para secar… É um horror… – reclama.
Amigos são poucos, pois ninguém chega perto de uma bota maltrapilha.
– As pessoas fogem de mim! Será que pensam que eu tenho alguma doença contagiosa? – diz, visivelmente chateada.
A verdade é que a vida na rua é muito dura.
– Você tem que conviver com o frio, a chuva, o calor, a fome, a falta de ter com quem conversar e o pior: o medo das pessoas ruins… – desabafa nossa amiga.
E secando uma lágrima que escorre, continua:
– Eu não tive escolha. Eu fui largada… E pensar que tem gente que foge de casa para viver nas ruas, por opção…
Sentada na sarjeta, ela respira fundo e lembra das crianças e dos bichinhos de estimação que também são abandonados e se emociona ainda mais.
Olhando uma senhora que revira os sacos de lixo, comenta:
– A gente vai envelhecendo e perdendo o valor para os outros.
Mas levantando-se, sacudindo a poeira e abrindo um sorriso, ela convida:
– Vamos dar um passeio por essa cidade linda?
É estranho ver pessoas com tantas privações materiais, manter o bom humor.
– É para espantar as coisas ruins! – explica um senhor enquanto devora um lanche que acabara de ganhar.
O sol brilha forte e esquenta o dia.
Nossa amiga, a bota, caminha lentamente, observando tudo ao seu redor.
Espanta-se cada vez que vê algo novo para ela.
– Nossa, já andei tanto por aqui e nunca tinha reparado nisso!
E lá se vai ela, conhecer a cidade que já conhece como ninguém.

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