Elisa saiu do consultório com a boca fechada e a cara amarrada.
No caminho até o carro não disse uma palavra.
Mal chegou em casa e foi direto para o quarto, ignorando completamente as pessoas da família na sala.
– Eu não quero falar com ninguém – resmungou quando a mãe bateu à porta avisando que o jantar estava pronto.
Naquela noite, que alguém tenha visto, ela não saiu do quarto nem para beber água.
Pela manhã recusou-se a ir para a escola e por diversas vezes pôde-se ouvi-la chorando baixinho.
A menina sempre teve os dentes tortos e agora está usando aparelho para corrigi-los, por isso todo esse estresse.
– Eu estou parecendo um robô com esse troço* na boca! – reclamou à mãe quando finalmente saiu do quarto.
– O pessoal da escola vai me chamar de boca de lata! – diz, num misto de brava com desesperada.
Dona Selma, passando a mão pelos cabelos da filha, tranquiliza-a:
– Imagina bebê! Seus amigos não vão falar nada disso! Eles gostam muito de você!
Com os olhos vermelhos a menina não concorda:
– Você não sabe de nada! Os meninos são cruéis e vão me perturbar o tempo todo… – grita a menina, correndo de volta para o quarto.
A mãe entende a filha e sabe que alguns meninos são danados às vezes, mas ela tem que exercer o seu papel de mãe e ajudar a filha a enfrentar a situação, por isso vai atrás dela e diz que amanhã ela não irá faltar à aula.
No dia seguinte Elisa até tenta convencer a mãe a ficar em casa, mas não consegue, nem mesmo chorando e fazendo drama.
Nem é preciso dizer que a menina sai emburrada e não quis beijar a mãe.
No tempo em que levou para ir da van até a porta da escola, rezou uns cinco Pai-Nossos, umas dez Ave-Marias e pediu para todos os santos que conhecia, para que lhe ajudassem.
– Elisa! – gritam as amigas ao vê-la, já correndo em sua direção.
– Mostra! – pedem curiosas.
– Não! Ficou horrível! – responde com as mãos na boca.
– Para de charme, deve estar lindo! – diz Cristina, a mais animada.
Encabulada ela vai abrindo a boca devagar e as meninas ficam agitadas.
– Que lindo! Você colocou as borrachinhas cor-de-rosa! – dizem.
– Eu estou me sentindo estranha, sem confiança… – mal termina a frase e ouve um assovio.
– Nossa Elisa, você colocou aparelho nos dentes – diz Eduardo, que estava passando pelas meninas naquele momento.
Pega de surpresa, ela só conseguiu sorrir, envergonhada.
– Uau! Agora o seu sorriso ficou muito mais bonito! Uma gata! – elogia o menino.
As meninas se agarram e em meio a gritinhos, brincam com a amiga:
– Tá namorando, tá namorando!
– Para, gente! É o Eduardo, o menino mais lindo da escola! Vocês piraram**? – pede Elisa, agora parecendo um tomate, de tão vermelha que está.
Na volta para casa ela só consegue pensar nos elogios que ganhou e dá um abraço muito apertado na mãe, antes de sentar para almoçar.
A mãe não entende nada, mas entende tudo. Sorri e serve a filha.

* troço : coisa. Termo normalmente utilizado quando quer se falar de algo que não se sabe o que é ao certo.
** piraram : ficaram loucas, perderam a noção.

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