A garotada reunida em volta do carro da companhia elétrica não se conforma:
– Quanto tempo vai demorar, moço? – perguntam, agoniados.
– Provavelmente o dia todo, meninos – diz o funcionário.
Um motorista embriagado perdeu o controle de um caminhão e derrubou um poste na rua de baixo.
Agora, todo o bairro vai ficar sem energia, até que o poste seja recolocado.
Imagine uma dúzia de meninos e meninas entediados, querendo assistir televisão e jogar vídeo game.
– Por que vocês não jogam bola? – arrisca o rapaz.
– As meninas não querem – reclama um dos meninos.
– Se for para brincar, queremos que seja de casinha – argumenta uma das meninas.
E a discussão vai longe, com meninos propondo algumas brincadeiras e meninas, outras.
O senhor Luiz, dono da vendinha da rua, vendo a tristeza das crianças, apanha uma revista velha, senta-se no chão e começa a rasgar algumas folhas, chamando a atenção de todos.
– O que o senhor está fazendo? – pergunta o João Victor.
– Aviões de papel – responde, enquanto faz as dobras em uma das folhas.
Antes que possa terminar o primeiro aviãozinho, já está cercado pelas crianças, que olham, curiosas.
– Pronto! – diz o senhor Luiz, apontando e jogando o aviãozinho para cima.
E lá vai ele, subindo e fazendo curvas, até pousar suavemente alguns metros mais à frente.
As crianças, que nunca tinham visto um aviãozinho de papel, se agitam e pedem para que o senhor as ensine a fazer.
– Claro que ensino. Então sentem-se todos e peguem uma folha de papel.
A garotada segue à risca as orientações do senhor e logo estão de pé, jogando os seus aviões.
Uns flutuam suavemente, outros vão de bico para o chão.
A gritaria atrai a atenção da vizinhança, que se aglomera para ver a brincadeira.
Logo alguém diz que sabe fazer outro tipo de avião, que voa mais longe e é cercado pela garotada, que quer saber como fazer.
Aos poucos, as próprias crianças vão fazendo modificações nos brinquedos e aí tudo acaba virando uma competição, para ver quem consegue jogar o aviãozinho mais longe.
Todos estão tão entretidos, que não percebem que o caminhão da companhia elétrica foi embora e que o poste novo já está no lugar.
Alguém até grita que a energia voltou, mas ninguém dá bola.
Pelo jeito a brincadeira não tem hora para acabar!
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