A minha vida é muito boa! Pelo menos era, até esse tal de Sergio aparecer…
Meu nome é Silas, tenho seis anos e moro com meus pais, minha avó e minha irmã, Silmara, que tem vinte e um anos.
Mamãe diz que eu sou a rapa do tacho*.
Eu não tenho primos, pois meu pai e minha mãe são filhos únicos, então todo mundo me paparica muito.
Meu quarto está abarrotado de brinquedos e minha família me leva para passear todos os finais de semana.
Minha preferência é ir ao parque brincar e depois almoçar lanche.
– Isso é uma porcaria! Tem que comer comida! – briga minha avó, mãe da minha mãe.
– Assim esse menino vai acabar tendo problema de estômago! – continua, inconformada.
Minha mãe me abraça e retruca:
– É só uma vez por semana, mamãe! Ele gosta tanto…
Todo mundo faz as minhas vontades. Sabe que às vezes é até chato?
Bom, mas eu acho que sou um bom menino. Não falo palavrões, respeito os mais velhos, vou à missa aos domingos, tomo banho e escovo os dentes todos os dias!
Na escola nunca tirei uma nota vermelha, nem mesmo em matemática!
Meu pai se surpreende:
– Matemática, logo no primeiro ano?
Eu já aprendi a somar e a subtrair. A professora disse que agora vai ensinar a multiplicação e mais para o final do ano, a divisão.
É muito legal aprender as coisas.
Você acredita que na semana passada eu consegui calcular o troco do meu lanche, antes da moça do caixa? Pois é… Fiquei muito feliz com isso.
Ler, para mim, ainda é um pouco difícil. Só consigo se for bem devagar… Mas eu chego lá!
Bom, mas eu estava falando do Sergio!
Ele estuda junto com a minha irmã na faculdade. Até aí, tudo bem, mas teve um dia que eu o ví pegando na mão dela e olhando de um jeito diferente que eu não gostei.
Pronto! Passei a ficar de olho nos dois, até o dia em que aconteceu! Eles se beijaram… Não! Minha irmã está namorando o Sergio!
Agora ela quase não tem tempo para mim. É Sergio para lá, é Sergio para cá…
Mal chega da escola e ela já corre para o telefone, falar com ele.
Já tem duas noites seguidas que ela não lê estórias para eu dormir!
Ah, mas a gota d’ água** foi quando ela disse que não podia me levar para passear no sábado, porque iria encontrar com ele.
Pela primeira vez na vida eu gritei, me joguei no chão e fiz drama.
– Você não me ama mais!
Mamãe brigou com ela! Disse que tinha que me levar junto.
– Ela não vai querer me levar, pois eu sei muito bem o que ela quer fazer! – disse em tom de ameaça, como se fosse contar um segredo muito grande.
Como ela estava irredutível e disse que não me levaria, não aguentei e contei para todo mundo:
– Ela vai beijar o Sergio! Eu já ví uma vez! – disse em tom dramático.
Mamãe, ela e vovó, que tinha acabado de entrar na cozinha, caíram na gargalhada.
– Meu Deus! Elas sabem e permitem! – pensei, chocado.
Olhando bem para mim, minha irmã disse algo que me aterroriza até hoje:
– Amor, eu e o Sergio somos namorados. Namorados se beijam e até casam, sabia?
Aquela revelação foi muito forte para mim. Corri para o meu quarto e não quis ver mais ninguém durante o resto do dia… Ah, mas na hora do café da tarde eu desci para comer um pedaço de bolo… Mas não conversei com ninguém!
A semana passou rápido e o sábado chegou novamente.
Ninguém mais tocou no assunto beijo!
Eu estava sentado no sofá, jogando no celular, quando ele chegou com uma caixa na mão.
– E aí Silas, tudo bem? – disse, tão meloso, que fiquei com medo que um enxame de abelhas aparecesse.
Como eu não respondi, ele ficou um tempo parado, até que tomou coragem, abriu a caixa e convidou:
– Quer jogar xadrez?
Apesar da minha curiosidade, respondi sem olhar para ele e mal mexendo a boca:
– Não.
Ele não desistiu, mas mudou a estratégia. Abriu espaço na mesinha de centro e começou a montar o tabuleiro.
Nossa! Que legal! Reis, rainhas, cavalos, peões, bispos e torres! Dois times!
Fui pego olhando de rabo de olho e senti meu rosto queimar.
– Poxa, eu queria tanto jogar… Mas não dá para jogar sozinho… – disse ele.
Nesse momento eu virei meu rosto para ele e com uma cara de mau, respondi de forma bem seca:
– Só uma partida então. Depois você me deixa em paz…
Cinco minutos depois eu e ele estávamos rindo juntos, pois eu só estava fazendo besteira no jogo.
Ele disse que por enquanto eu era café com leite***, mas que logo ele iria jogar para valer comigo!
Coitado… Ele é tão inocente! Eu vou aprender esse jogo rapidinho e ele não vai ter chances contra mim!
E assim foi a tarde toda!
No final do dia eu não queria que ele fosse embora e quem estava com ciúmes era a minha irmã, que não conseguiu dar nem um beijinho nele!

*     rapa do tacho: ou também, a raspa do tacho, quer dizer o finalzinho de algo. No nosso caso, significa o último filho, o caçula. Aquele que provavelmente será o mais novo, pois a mãe não deverá mais ter filhos.
**   gota d’ água: é aquilo que faz com que algo ou alguém, exceda o seu limite.
*** café com leite: pessoa que participa de uma atividade, mas não a domina. É o iniciante, que normalmente não joga para valer.

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