Marcelo é um pai jovem e antenado, mas muito conservador quando o assunto é sua filha, de nove anos.
A menina sofre com a falta de alguns gadgets* e com o controle rígido no que se refere ao uso da tecnologia.
– Pai, me dá um celular?
Terminando de beber o seu copo de suco verde, que segundo ele, serve para manter a forma, o pai apenas ergue os olhos por cima dos óculos.
Os segundos seguintes parecem uma eternidade para ela. O tempo que o copo levou, da boca até a mesa, durou mais do que uma partida de futebol com prorrogação e pênaltis.
Depois de limpar os lábios com a língua, o pai, sem olhar para a filha, pergunta:
– Para quê?
Fazendo cara de “Como assim?” a menina responde:
– Porque todas as minhas amigas tem!
Imitando uma campainha, o pai:
– Pééé! Resposta errada… Você não pode querer algo, só porque as suas amigas tem.
– Na verdade, vocês poderiam me achar mais facilmente e a mamãe não ficaria tão preocupada comigo.
– Sei… Mas você quase não sai de casa. A van da escola vem te buscar e te trazer na porta e quando você sai, a sua mãe te leva e vai buscar. Acho que se for por isso, não tem porque te dar um celular.
Querendo dar um pití**, sapatear e jogar-se no chão, mas controlando-se, a menina respira e pondera:
– Pai, eu sou a única pessoa da sala que não tem Snapchat, WhatsApp e Instagram. Nem Facebook eu tenho!
Agora, olhando para a filha:
– Eu estou mais interessado em matemática, português, Inglês…
A menina, não se dando por vencida, apela:
– Você está certo, papai! Mas por não ter essas ferramentas, eu acabo ficando para trás, pois a sala tem grupos de discussão das matérias onde o pessoal troca informações, fotos, vídeos… Tudo isso com os professores monitorando.
A fisionomia do pai muda. Endireita o corpo e assume um ar pensativo.
A menina aproveita e completa:
– E essas informações são trocadas na hora! Eu não preciso esperar o dia seguinte para pegar com alguém na escola… – diz, fazendo cara de sofrimento.
Marcelo coça a cabeça, vencido, pois os argumentos são bons e ele não quer que a filha seja prejudicada por isso.
– Está bem, mas vamos supor que eu te dê mesmo um celular… Não quero saber de você pendurada nele o dia todo! E nada de dormir com ele ligado! Você sabe que não faz bem à saúde!
Janaína, agora com vontade de pular, gritar e dançar, finge serenidade e concorda.
O pai ainda fica um tempo olhando para ela, como que esperando uma outra reação que pudesse entregar algum outro desejo oculto, mas ante à impassividade da menina, levanta-se e sai.
– Ufa! Em cima da hora! Quase que não aguento mais me segurar – murmura.
Ainda por perto, o pai coloca a cabeça para dentro da cozinha e pergunta:
– Falou comigo, filhinha?
A menina, engolindo em seco:
– Não papai, estava falando sozinha!
No dia seguinte ao voltar da escola, a menina pôde comemorar. Até que enfim ganhou o tão sonhado celular!

* gadget = é uma gíria tecnológica recente, que se refere, genericamente, a um equipamento que tem um propósito e uma função específica, prática e útil no cotidiano, tal como os smartphones, tocadores MP3 e etc.
** dar um pití = dar um chilique, fazer um barraco, descontrolar-se.

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