Paulinha voltava para casa todos os dias com dor de cabeça.
– Eu estou estudando muito. Preciso de férias – reclama para a mãe.
Como essas dores continuaram a aparecer dia após dia, a mãe começou a reparar na filha e percebeu que ela estava com dificuldades para enxergar objetos próximos à ela.
Marcou então um oftalmologista e lá foram as duas para a consulta.
O doutor atencioso, não demora muito para dar o diagnóstico:
– Ela tem hipermetropia.
Aquele nome esquisito fez com que o coraçãozinho da menina disparasse e ela começasse a soluçar tanto, que desabou a chorar desesperadamente.
– Eu não quero morrer! – gritava sem parar.
Com vontade de rir, mas se segurando, o médico e a mãe acalmam a menina e então ele pode explicar para ela o que significa aquela palavra estranha.
– Hipermetropia é o nome que se dá a um probleminha que faz com que você não consiga enxergar direito de perto.
Enxugando as lágrimas ela pergunta:
– Tem cura, doutor?
Sorrindo ele responde:
– Basta você usar um belo par de óculos e vai conseguir enxergar perfeitamente as letras nos seus livros.
Arregalando os olhos ela desata a chorar novamente:
– Não! Óculos não! Eu não quero virar uma quatro-olhos!
E inconformada continua a gritaria:
– Eu não vou ser a única de óculos na sala! Todo mundo vai caçoar de mim!
Apavorada com a possibilidade de ter que aparecer na escola usando um par de óculos, a menina soluça sem parar.
Virando-se e pegando um mostruário, o médico separa um modelo bem bonito e pede que a menina coloque.
– Veja que lindo é esse! – elogia a mãe.
Com tantas lágrimas nos olhos ela não consegue ver direito, mas até gosta da armação.
– Olha, isso é apenas para você ver que tem óculos muito legais. Eu vou te dar uma receita e você vai até uma ótica e escolhe a que mais lhe agradar, ok? – diz o doutor, atencioso como sempre.
Mãe e filha passam a tarde toda escolhendo um par de óculos.
Alguns dias depois voltam para retirá-lo e a menina, um pouco mais conformada, já começa a usá-lo.
– Nossa, que lindo!
Fazendo bico, a filha discorda.
– O que tem de mais usar óculos? A Taís Araújo e a Jennifer Aniston, que você adora tanto, também usam! – diz a mãe.
Naquele momento a menina aceita, mas na hora de sair de casa para ir para a aula, recomeçam as reclamações.
– Ana Paula de Freitas! – esbraveja a mãe.
Ih! Mãe quando diz o nosso nome completo é porque está realmente brava!
Paulinha engole o choro e segue para a escola.
Entrar na sala de aulas para ela, foi como entrar em um ringue para lutar contra dezenas de monstros.
Mal apontou na porta e os meninos mais endiabrados começaram a brincar com ela:
– Olhem a quatro-olhos! – e caem na gargalhada.
Emburrada, a menina senta-se e tenta ignorá-los, mas eles só param quando a professora chega.
Durante a aula, sem ninguém lhe perturbando, ela percebeu o quanto era bom estar enxergando bem.
– Nossa, eu agora posso ver tudo perfeitamente! – pensa.
A hora do recreio chega e os meninos, que só estavam esperando o sinal, retomam as gozações.
Foi aí que suas melhores amigas, Belzinha e Maísa, retiram estojos de suas bolsas e colocam seus óculos também.
– Desde quando vocês usam óculos? – pergunta surpresa nossa amiguinha.
– Há muito tempo… – responde Maísa.
– Eu só usava em casa, para que os meninos não me perturbassem – diz Belzinha gaguejando.
Animada agora por ter companhia, Paulinha tira um espelho da bolsa e dispara:
– Olha só como estamos Divas!
Os meninos, que estavam em volta, não aguentam e aumentam as piadinhas.
Ops! Meninas? Que caras são essas? O que vocês vão fazer?
As três levantas juntas e encaram os meninos.
– Somos quatro-olhos sim! Qual é o problema? Vocês tem alguma coisa a ver com isso? – esbravejam ao mesmo tempo.
Pegos de surpresa, os meninos recuam e as meninas continuam:
– Acho bom vocês pararem com isso, senão vamos reclamar com o diretor!
– É! Acho que os seus pais não vão gostar de ter que vir aqui ouvir reclamações! Principalmente o seu, senhor Matheus, que também é um quatro-olhos! – diz com convicção Maísa.
– Wow! Poderosa! – comemoram as outras amigas.
Sem ação, os meninos saem da sala e nunca mais se metem a perturbar as meninas, pois isso é bullying.
Bullying é crime!
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