A avó de Francisco mora na mesma cidade que ele, mas em um bairro muito distante do seu.
Ela não tem carro.
– Ah, mas mesmo que tivesse, não me aventuraria a dirigir nesse trânsito louco… – afirma a velhinha.
Ela gosta mesmo é de pegar o ônibus, pois assim tem a oportunidade de ficar conversando com os outros passageiros.
– Todos são muito educados comigo! Mesmo com o ônibus cheio, sempre consigo um lugarzinho para sentar.
Mas não é sempre que ela sai de casa, pois as varizes em suas pernas doem muito.
Assim, suas visitas ao neto são raras.
Francisco já pediu várias vezes para que a mãe o deixe ir sozinho à casa da avó, mas como ele ainda nem fez dez anos, óbvio que ela não deixa.
– Você é muito pequeno, vai acabar se perdendo… Além do mais, você não vai conseguir se segurar no ônibus sacolejando de um lado para o outro!
Todos os dias o menino pensa nela, principalmente pelo fato da avó do seu vizinho morar com ele.
É ela quem leva e vai buscar o garoto na escola e quem faz as guloseimas que ele adora comer.
Hoje é um dia especial! Uma das suas tias vai passar a tarde com eles e vai trazer a vovó para passear.
Af! O ar-condicionado do seu carro faz mal para a minha rinite – reclama a velhinha assim que o carro para.
Dona Luiza é boa gente, mas reclama de tudo.
A única coisa nesse mundo que é perfeita para ela, é Chiquinho, seu neto.
– Vovó! – grita o menino.
– Nossa, mas como você cresceu! Daqui a pouco não consigo mais ficar com você no colo! – constata a mulher.
Enquanto as irmãs cuidam de colocar a mesa para o café, avó e neto sentam-se no sofá e vão colocando as novidades em dia. Não que eles não conversem pelo telefone sempre, mas pessoalmente é muito melhor.
– Como você está indo na escola? – pergunta a vovó, um pouco mais séria.
Fazendo quase uma careta, Francisco fala baixinho:
– Matemática nada bem… Mas a mamãe disse que eu vou começar a fazer Kumon* na semana que vem!
Fingindo saber do que se trata, ela apenas balança a cabeça, aprovando.
Hum, muito bom…
E estalando os dedos, lembrando de algo importante, apanha um pacote e o entrega ao neto.
– Já sei – diz o neto com um sorriso.
– Outro livro!
A velha senhora ri e diz que desse ele vai gostar.
O menino maluquinho! – grita feliz.
– Eu me encontrei com o escritor uma vez… Ziraldo… Um rapagão bonito que só… – suspira a avó.
O neto está tão entretido folheando o livro, que não ouve uma só palavra.
– O café está na mesa! – chama a mãe.
Hum, o cheirinho está muito bom! – diz Francisco lambendo os lábios.
– Espero que vocês tenham feito café forte dessa vez… Eu não gosto daquela água suja* que me servem sempre que venho aqui – reclama dona Luiza só para não perder o costume.
– Olha mamãe, que livro legal que eu ganhei da vovó!
– Nossa, muito bom! Agora vamos lanchar?
A avó repara em uma mancha velha de café na toalha e reclama:
– O que é isso Mirtes? Não foi assim que eu te ensinei… Não se serve a mesa com uma toalha suja…
– Vocês deviam ter cuidado do forno… O pão de queijo passou do ponto ideal…
– Que horror! Vocês estão passando por dificuldades financeiras? Custa colocar algumas colheres a mais de pó nesse café?
– Já terminei… Se vocês continuarem conversando eu vou chegar tarde em casa e perder minha novela…
Dona Luiza faz a festa do garoto, que ri a cada reclamação dela.
– Acho que a mamãe faz de propósito, só para ver o Francisco rir – cochicha dona Mirtes à irmã.
E as reclamações não param… As risadas também não!

* Kumon: é um método que visa desenvolver o autodidatismo nos alunos de forma individualizada por intermédio das disciplinas de matemática e língua pátria. (Isso não é Merchandising)
* água suja: adjetivo para café fraco

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