Tem amizades que a gente não sabe ao certo como começaram.
Às vezes vemos amigos muito diferentes uns do outro, que não se desgrudam.
O que você acharia da amizade entre um abacate e um moranguinho? Pouco provável, pois o primeiro nasce e vive em uma árvore muito grande, já o segundo se desenvolve em uma moitinha.
Pois nossa estória começa em um dia de muito vento na cidade.
A garotada pinta o céu com suas pipas multicoloridas.
Um descuido de um dos meninos e zás! A linha de sua pipa é cortada por outra.
E lá se vai ela ao sabor do vento, sendo levada para longe.
Muito tempo depois a pipa se enrosca em um abacateiro.
Em alguns minutos, um garoto que mora no sítio onde a pipa caiu, puxa a linha freneticamente até conseguir arrancá-la.
Com isso, folhas, pequenos galhos e vários abacates caem ao chão.
Um deles rola forte e desafiando as leis da física, faz malabarismos, sobe um pequeno aclive para depois despencar morro abaixo, para parar somente ao lado da cerca que divide um sítio do outro.
Ainda tonto e se segurando para não cair, o abacate ouve uma voz que lhe chama:
– Ei, você… Está bem?
Fazendo força para enxergar, pois o sol ofusca sua visão, o abacate pergunta assustado:
– Quem está aí?
– Sou eu, um moranguinho! – responde com uma voz suave.
O abacate então, olha para baixo e vê aquela coisa pequena, parecendo uma bola vermelha.
– O que é você?
– Eu sou um moranguinho, ué?
Desconfiado, o abacate continua o interrogatório:
– E o que é um moranguinho? Para que você serve?
Rindo ele responde:
– Eu sou uma fruta! E você?
Empinando o peito e engrossando a voz, fala firme o abacate:
– Eu sou um abacate, oras!
Bom, esse bate-boca vai longe e depois que cada um entende o que o outro é, passam a trocar experiências sobre os locais onde vivem.
– Uau! Quer dizer que você vivia no alto de uma árvore? – pergunta maravilhado o moranguinho.
– Sim. Era muito bom… Eu acordava e podia ver tudo de longe… Mas sabe, aqui embaixo também é legal…
– Nossa, é irado! Você já viu uma vaca de perto? É assustador! De vez em quando elas passam por aqui e se esticam pela cerca para comer nossas folhas… Dá para sentir o bafo quente delas… – narra o moranguinho.
Tremendo de medo e olhando para todos os lados para se certificar que nenhuma vaca está próxima, o abacate pergunta:
– E o que você faz? E se ela te comer?
Contando vantagens, o morango se gaba:
– Ah, comigo não tem perigo… Quando elas se aproximam eu me jogo para o lado e me abaixo… É uma pena que não consigo sair daqui, senão eu pulava, me agarrava à ela e saia andando por ai!
Querendo ajudar, o abacate propõe:
– Se você quiser, posso te arrancar daí…
Engolindo seco e achando que falou demais, o amiguinho responde gaguejando:
– Sair? Daqui?
– É, você não quer passear na vaca? – diz o abacate, animado com a possibilidade de ir junto.
E antes que ele pudesse responder, dá-lhe um puxão forte, arrancando-lhe da sua rama e caindo os dois para trás.
– Você está louco? – grita o morango, pulando para longe do abacate, que não responde, pois está com os olhos arregalados olhando para cima.
O moranguinho então se vira e vê uma boca enorme vindo em sua direção.
– Uma vaca! – sai correndo, arrastando o abacate junto.
Escondidos debaixo da folhagem, os dois ficam imóveis e em silêncio até que o bichão vá embora.
– Radical! – diz o abacate, suando de nervoso.
O amigo apenas olha para ele, mas sua vontade é socá-lo.
Como a vaca ainda está por perto, preferem ficar em silêncio e acabam dormindo encostadinhos um no outro.
Anoiteceu e nada deles acordarem! Outro dia nós passamos novamente por aqui para ver como anda essa amizade.

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